segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Condição humana




      O que nos torna seres humanos? Será a matéria, o corpo ou o fato de nos sensibilizarmos, de termos sentimentos, sentirmos alegria, tristezas, raiva e nos comover com situações tão deprimentes a que chega o homem.
      Vive-se todos os dias em função de  afazeres, questiona-se o trabalho, o fato de haver mais um dia, o fato de estar chovendo ou fazendo muito calor. Nos indignamos com o vizinho, com o barulho nas ruas, o transtorno nos ônibus lotados, trânsito que atrapalha os horários de trabalho... enfim...
      Drásticos são os dias se observarmos a dramaturgia que se faz deles. Porém, ninguém se preocupa com o drama que se encontra logo ali, na outra esquina, nos becos úmidos, cheirando a mofo e camuflados por cimento.
      Há muitas vidas que sofrem na aspereza da ingratidão humana, alienadas pela sociedade que exclue e os condiciona a animais, maltrapilhos, bêbados, abandonados, míseros seres pequeninos à espera da graça humana, de um mundo justo e digno para se viver.
     De um lado, a arrogância aliada à futilidade. De outro, a submissão humana condicionada à prisão de se viver indignamente.


Velhice



Doce olhar de menina
que acalenta sonhos
e vive como se ainda brincasse.
A velhice tem esses olhar
assim descritos.
Que penetra-nos como se refletisse
parecendo querer nos dizer algo.
Como se o mundo fosse menos imponente
que sua sábia experiência.
Seu olhar nos remete a um lugar longínquo
praticamente inabitado, em que as pessoas
respeitam a beleza da sabedoria.
Este olhar penetrante e fascinante
Nos observa constantemente
como se muito demorássemos
para perceber os seus sentimentos
ou ignorássemos seus sonhos e ilusões.
Aliados a este olhar estão os gestos
pequenos e graciosos
Lentos e tão seguros de si
Murmuram palavras enigmáticas
como as de uma criança
que inicia sua vida neste mundo.
A velhice é sim, o voltar a ser criança
Uma vez que se fecha como num casulo
e espera, para mais tarde,
Renascer para a vida!

Injustiças

Injustiças...
São manchas negras à espera de bajulações.
Dilacerantes, cortam e provocam a dor
Incessantemente atraem o cheiro podre
que enfastia os ambientes.
Enegrecem o espaço
e convencem à miséria humana.
Vejo pessoas que se espreitam ao lado das injustiças,
deliciando-se com seu sabor e
se alimentando dos restos,
das sobras da condição humana.
A pena é o único olhar a estes seres
que não sabem da vida,
invejam aqueles que apostam em seus dias
a condição para ser mais feliz,
viver para saciar os filhos e a mulher
e voltar para casa mais feliz
por mais um dia ter sido digno
de ser chamado de humano.
Enquanto os "outros", hipócritas
São convencidos pela estupidez
e arrogância de achar que a vida
é a condição para a morbidez humana.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ser



Sou tudo o que busco
E nada do que desejo
A chave para o abismo
E a porta para a felicidade

Entre quatro paredes
Enegreço-me sofregadamente
Em meus cálidos e sombrios
pensamentos
Como se o mundo fechasse à
minha frente e suspirasse
pesadamente aspirando por
liberdade.

Jamais muda-se a alma
Negra, comprimida de desilusões
e alicerçada na aspereza
da imcompreensão
Jamais compreende-se o coração
que fala e cala
Que chama e grita
E não quer fazê-lo
Jamais ouve-se exatamente!

Indefinido


Nada me parece exato
A não ser a certeza de amar
Nada é objetivo, claro  e definido
A interferência da dor
É lúcida em nossas mentes
Viver é tornar-se mais alguém
É sonhar e vibrar com as vitórias
É ter a certeza de que se está bem
É muito mais...
É sentir seu próprio sorriso
Como uma arma contra o
Desespero
É tornar-se vivo para não
Morrer...
Deve-se procurar afastar as
Lágrimas
Que nos derrotam
Os sentimentos que nos abalam
E nos deixam menores
Somos sim o equilíbrio do mundo,
A força do amor nos corações
Selvagens
O escudo contra o desamor e o
Abandono
Somos a consciência do mundo
Que luta pela paz nos cantos
Subumanos
Desse recanto chamado Terra.

Se um dia...



Se um dia estiveres pensando...
Que tua vida
virou o oposto do que sonhavas
Um tédio inocente
Toma conta de teu rosto pequeno,
Abatido, cansado
Amargurado pelas desilusões...
Se um dia...
Ao acordares
E ver que não alegrou-se
Entristeceu em pensar que existe

Se um dia
Ao rever teu pai
Não sentires nada
E o abatimento no rosto daquele velho
Não te surpreender

Se um dia...
Amanhecendo o dia
E você acordar sem vida
Certamente, se pudesse
Você desejaria infinitamente
Viver!
E ver nas coisas simples
As mais puras e belas
Do Mundo!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Abaporu - Tarsila do Amaral

Obras para a Sala de Aula

Soneto de Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes

Soneto da separação


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinícius de Moraes

sábado, 12 de setembro de 2009

domingo, 6 de setembro de 2009

Minha mãe

Minha mãe
Deu-me a vida
e por isso, é merecedora de respeito.
Tu és a força que nunca tive
A determinação e coragem
que sempre busquei
O amor que o mundo desconhece
A ternura e a fé de um ser humano supremo.
Amo-te infinitamente
como a lua necessita da noite
as estrelas do céu
e o ser humano do amor...

O diferencial

     Tudo aqui é normal, as casas imóveis com seus habitantes tranquilos descansando do dia ou enfastiados do mesmo.
     Mas algo é diferente, quase sobrenatural. No céu há um azul pálido devido à chuva que ocorreu ainda hoje. Nele percebe-se amontoadas e imóveis nuvens de um azul-cinza que enfeita a camada espessa de poeira e vapor d´ água. Juntas, formam uma cortina colorida de azul-pálido, cinza e esfumaçada, emaranhada pelo dourado reflexo da estrela maior.
     Luz que se confunde com a claridade da matriz, representando mensagens do céu à Terra. Os anjos dizem amém.
     Mais ao oeste, onde dorme o gigante, as marcas de seu adeus a mais um dia. Os longos braços tocam suavemente os algodões azulados numa leveza e suavidade brilhantes! A sensação pela visão magnífica é indescritível e tenho a sensação de paz e liberdade.
     Agora, pequenos algodões parecem querer aproximar-se do astro para a despedida e são tocados. Amarelo e laranja exprimem a descoberta da alegria, prazer e liberdade. E dor... pela despedida longa e inesquecível daquele que aquece, encanta e humaniza a quem o vê, sente...

Acaso


      Andar apressado para dar conta de todos os compromissos; ideias, planos, expectativas percorriam e tomavam conta de meus pensamentos.
     A esperança reascendia no peito e exultava no brilho do olhar. Mas, sem esperar, repentinamente, vejo uma cena que me comove e enleia-me em pensamentos distantes, como se não mais fizesse parte deste mundo ou, aquele ser parecia pertencer a outro lugar; remoto, longínquo...
     Estava sentado sobre a escada e segurava uma criança; uma menina. Ele, moreno, com um chapéu à cabeça deixava transparecer o cansaço através de seu corpo magro e esguio. Sua pele queimada revelava o trabalho debaixo do sol forte. Simples e humilde trabalhador, de perfil, seu olhar denunciava a miséria e o mais comovente: não havia esperança nele, era vazio, olhar de alguém que não recebe afago e atenção.
     Por mais que não lhe restassem sonhos e esperança, seu gesto mostrava  o contrário; alimentava a criança, despedaçando o pão e dando-lhe à boca.
     Seu gesto me fez pensar que, apesar da dor e sofrimento, este homem, pobre e humilde, vítima da sociedade excludente e usurpadora, ainda acredita na vida e no que ela pode oferecer.
     A cena era fascinante e comovente, era linda e tão triste!

sábado, 5 de setembro de 2009

Frase Clarice Lispector

...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.

Clarice Lispector

Frase Clarice Lispector

Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Clarice Lispector